quinta-feira, 24 de julho de 2014

Grafite na escola: um espaço para a magia, sedução, provocações e descobertas na construção do “Eu”.

          Em dezembro de 2013, quem passava pela via pública percebia o movimento, a agitação de um grupo de adolescentes em frente à escola Padre Reüs. Portanto, tintas spray e pincéis, grupos conversavam e discutiam sobre o que desenhar, compartilhando opiniões, demonstrando sentimentos, relatando através dos traços e cores, um pouco de suas experiências. Cada grupo formado por três alunos ficou responsável por um pedaço de aproximadamente dois metros do muro. Pouco a pouco, os painéis pintados foram dando voz aos jovens que ali deixaram registradas suas ideias.
            A ideia de grafitar o muro da escola surgiu no início do ano letivo logo nas primeiras aulas de Artes. Estudando sobre a arte na pré-história, observando slides que mostravam as primeiras pinturas em cavernas, onde a arte nas paredes representava uma forma de expressão do saber humano e das suas experiências cotidianas, e também, nas primeiras civilizações da Antiguidade, onde através de murais e registros podemos saber sobre a cultura daqueles povos, surgiu a discussão: como a arte pode servir para compartilhar experiências? Como demonstrar sentimentos e relatar o cotidiano?
            As discussões contribuíram para refletirmos sobre qual a condição dos jovens dentro da escola e da necessidade de vê-los como sujeitos a serem ouvidos. Diante disso me propus a realizar com o grupo o grafite nos muros da escola.
              Para dar conta desta tarefa, continuamos estudando sobre a história da arte e seu desenvolvimento ao longo dos séculos. Desde os mosaicos bizantinos, a arte gótica, renascentista até às produções contemporâneas.  “Passeamos” pelos principais museus da Europa e Estados Unidos, até a Bienal do Mercosul.
O capítulo destinado ao Grafite despertou um enorme interesse nos alunos. A observação e análise dos grafites de diversos países, as pinturas no muro de Berlim, as paredes de casarões antigos na Escócia e Bulgária, os alegres e coloridos grafites em Olinda e Porto Alegre, mostraram que a arte não está apenas dentro dos museus, mas pode estar diante dos nossos olhos. A arte presente nas cidades, interferindo na correria do dia a dia daqueles que passam pelas vias públicas, de carro, ônibus ou a  pé.

            Diante da força das obras do grafiteiro nova-iorquino  Jean Michel Basquiat, os alunos puderam perceber que a arte pode e deve servir como um meio de expressão e que não há limites para a imaginação e a criatividade.
Na trajetória do trabalho com grafite, um dos aspectos mais significativos foi a interação entre os estudantes. As trocas de opiniões, a argumentação das ideias, as ações e relações dos alunos no momento em que vivenciaram esta prática, constituíram-se em significativos aprendizados.
   A produção coletiva dos grupos e o resultado final demonstram que a educação tem muito a aprender com as artes. As necessidades contemporâneas exigem uma nova relação dos alunos com a escola e desta com a cidade.
 O uso do grafite como recurso didático é uma maneira de inovar o ensino, possibilitando aos jovens intervirem na cidade, contribuindo com suas ideias, sua expressividade. 




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