João e Maria são irmãos. Vivem com o pai e a madrasta numa pequena casa na Vila dos Esquecidos. A mãe dos meninos morreu quando eles ainda eram pequenos, a nova "mãe" não gosta das crianças. Implica todo o tempo e exige que o pai "dê um jeito nelas!"
João e Maria vão para a escola. Lá eles ganham da professora lápis, borracha e cadernos, pois a madrasta acha bobagem gastar tanto dinheiro com a educação das crianças, afinal, eles tem mais coisas com que se preocupar.
Na escola, Joãozinho gosta dos números, da tabuada, das continhas. Já Maria gosta de escrever e ler poesias. Seu sonho é ser poeta. Na escola, decorou uns versos que a professora recitou para eles "Arabela abria a janela, Carolina erguia a cortina e Maria olhava e sorria Bom Dia!"
- Cala a boca, menina! Para com esta chatice e vai lavar tua roupa e do teu irmão! - a "mãe" não gosta de poesia, pensa, deve ser porque não sabe ler e escrever. Mas se tivesse ido à escola, certamente ia gostar assim como ela, das poesias e histórias que ouvia da professora. "Arabela foi sempre a mais bela, Carolina a mais sábia menina. E Maria apenas sorria Bom Dia!"
Os pais andam brigando muito. A madrasta quer um banheiro na casa com chuveiro, mas as coisas andam difíceis.
Joãozinho começou a trabalhar com o pai numa obra. Ajuda carregar sacos e pedras. Na obra fica contando quantos sacos são usados por dia e medindo o tamanho das paredes. Quando viu a planta do prédio, como aqueles gráficos, números... ficou encantado: "quero ser engenheiro!" Quando chegou e em casa, correu para contar pra Maria.
Ela estava chorando. Havia brigado com a madrasta porque esta queria tirá-la da escola.
As coisas andam difíceis...
Maria agora trabalha meio-turno na casa de uma senhora idosa. Arruma as coisas e faz companhia. Nos momentos livres, lê suas histórias e rabisca poesias. Joãozinho agora estuda à noite para poder trabalhar o dia inteiro.
No outro lado da cidade vive Regininha. É a filha mais nova de uma casal de médicos. Estuda pela manha e à tarde faz aula de pintura e inglês. Seu pai diz que é importante saber falar outros idiomas. Nas últimas férias viajaram para o México e ela ficou encantada com o espanhol. "Papai, este ano quero também aprender espanhol!" Regininha já havia ido à Miami em anos anteriores e por lá se fala muito o espanhol.
Joãozinho abandonou a escola. Não conseguiu concluir os estudos. O trabalho na obra é cansativo e havia dias que ele não tinha ânimo para estudar. Tinha faltas demais e decidiu parar de estudar. Se der, mais adiante ele continua. Mariazinha concluiu o ensino médio e sonha em ir pra faculdade. Ela está pensando em pedir para a senhora que aumente seu salário a fim de que ela possa economizar para pagar as mensalidades.
Regininha faz cursinho pré-vestibular. Quer ser médica como seus pais e o vestibular é concorrido. Precisa esforçar-me muito.
Nos intervalos do cursinho, ela e os amigos conversam sobre a vida e os plano para o futuro.
Andam falando que as universidades deverão oferecer vagas para negros e alunos de escolas públicas. Ela e seus amigos ficam indignados com isso! Onde já se viu! Cotas?! Que absurdo! Por que alguns tem que ser privilegiados com cotas? E ela? Se esforçou tanto, estudou? Seu desempenho não vale nada? Por que essa gente não estuda e se esforça como ela? Que injustiça! As chances tem que ser as mesmas para todos, afinal, SOMOS TODOS IGUAIS, NÃO?
"Pensaremos em cada menina, que vivia naquela janela. Uma que se chamava Arabela, outra que se chamou Carolina. Mas a nossa profunda saudade é Maria, Maria, Maria, que dizia com voz de amizade: Bom Dia!"*
* As Meninas, Cecília Meireles
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